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Ao se arrepender de morrer, Walter Galego, ruivo e depressivo, ganha a chance de retornar ao início de sua antiga vida e mudar a própria história graças a um incrível pacto com o Nada. Prisioneiro de um corpo que limita suas ações e narrador consciente de sua trajetória desde a própria concepção, ele luta contra crises de pânico, ressignifica encontros fundamentais, faz descobertas assombrosas e se depara, mais uma vez, com o pai violento.
Partindo de um suicídio e flertando em muitos momentos com a morte, “Como não morrer de uma só vez” se debruça sobre a trama cotidiana da vida e nossa busca por sentido, embaralhadas à jornada de um homem que tenta desesperadamente reconstruir-se – ou destruir-se – num bairro quente da Zona Norte do Rio de Janeiro.

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2010 - presente

Texto da Orelha de Pedro Kosovski 

Poderia ser um monólogo, pois assim como eu, Gustavo Vaz é da turma do teatro. Agora, em sua estreia na literatura, ele constrói um romance de ecos existencialistas no qual seguimos o narrador-protagonista Walter Galego recontando cronologicamente, e com acentuadas doses de cinismo, o retrato de sua vida enquanto queda.


Marcado pela experiência-limite do suicídio, o narrador assume a voz de uma supraconsciência que percorre sua biografia desde antes da concepção – do Nada ao Nada – até o último suspiro que contém toda uma vida condensada por encontros quase sempre (in)desejados. Foi assim que li este livro: de uma só tragada.


Nas incontáveis quedas – o suicídio é mais uma – Walter passa por momentos que marcam a memória recente de uma geração criada após a redemocratização, mas seu campo de batalha se dá dentro da célula familiar – pai, mãe e filho – este triângulo edipiano que replica compulsoriamente a violência patriarcal, machista e misógina que constitui a sociedade. Tabus, fugas, ressentimentos. Não há amor – e nem ódio – sem ambivalências. Assim opera o desejo.


Neste sentido a sucessão de quedas que marca sua cronologia acena também para um gesto ativo; um descontrolado desejo por uma renúncia definitiva contra os valores decadentes que de-formam nossos “homens de bem”: uma espécie de rebelião da própria vida contra si mesma.

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